terça-feira, 30 de outubro de 2012

OBSERVAÇÃO DE AVES (SETEMBRO 2012) (Anexo)


Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de PASSERIFORMES

Em novembro de 2010, por altura da inscrição da Petinha-ribeirinha (Anthus spinoletta) na minha «Lista das aves do estuário do Cávado», na qual ainda constam a muito comum Petinha-dos-prados (Anthus pratensis) e a rara Petinha-marítima (Anthus petrosus), desenvolvi aqui um breve texto sobre a presença das aves do género Anthus sp. nesta região e no qual expressei a grande dificuldade em identificar quase todas as petinhas que ocorrem no território continental nacional. Mas naquela oportunidade, por mero desconhecimento, não enumerei o total de nove espécies até então registadas entre nós. Nas acidentais, para lá da Petinha-de-garganta-ruiva (Anthus cervinus), deveria ter indicado ainda a Petinha-de-blyth (Anthus godlewskii) e a Petinha-silvestre (Anthus hodgsoni). Cumpria-me também ter mencionado a Petinha-de-richard (Anthus richardi) como invernante e migradora de passagem que, apesar de rara, ocorre com alguma regularidade na nossa faixa costeira, à semelhança do que se verifica durante as migrações com as pouco comuns Petinhas-dos-campos (Anthus campestris) e Petinhas-das-árvores (Anthus trivialis).

Numa passagem daquele mesmo texto dizia “Com exceção da observação de uma A. pratensis no final de Agosto de 1998, apenas registei a ocorrência de petinhas no litoral norte entre os meses de setembro e março,…”. Ora, este registo não encaixa, de todo, nos vários estudos fenológicos entretanto publicados. Assumi, então, que a ave por mim observada naquela data seria certamente pertencente a outra espécie, mas as ditas dificuldades em distinguir qualquer petinha das restantes obrigar-me-ia, numa próxima oportunidade, a recorrer ao registo fotográfico através do qual poderia analisar devidamente as caraterísticas necessárias para um correto diagnóstico. Assim, desde 2011 estive particularmente atento às aves deste género que eventualmente ocorressem no estuário do Cávado em finais do mês de agosto e em setembro. Reforcei esta atenção quando, no início do último mês de setembro, Miguel Cardoso, coordenador regional do Minho do projeto Atlas Aves Invernantes e Migradoras, me disse que estava a registar a passagem de Petinhas-das-árvores pelas Lagoas de Bertiandos, não muito longe daqui em Ponte de Lima.

Até que no final de tarde do dia 20 de setembro de 2012 encontrei, finalmente, uma petinha “suspeita” na linha de água que, ao longo da margem esquerda do Cávado, contorna o juncal entre a marginal de Fão e o molhe do Caldeirão. Nada “simpática”, a ave não me permitiu fotos bem definidas de determinados detalhes que eu considerava importantes para uma correta identificação, mas, ainda assim e depois de devidamente avisado, submeti o registo à apreciação no Fórum Aves com as seguintes palavras e imagens:


«O Pedro Ramalho fez o favor de me pôr às voltas com as fichas do Javier Blasco à conta de uma petinha que ontem, dia 20 de setembro, observei no estuário do Cávado.

A ave não foi muito amiga, pelo que o registo fotográfico só deu nisto:


















e, desdobrando a partir de outras fotos com ainda pior qualidade, também nisto:



























Sem querer influenciar-vos, anexo a imagem de uma pratensis que encontrei naquele preciso local em outubro de 2011:
 

















A ave das primeira e segunda imagens frequentava habitat típico onde as pratensis abundam por cá no inverno. Mas os detalhes da segunda imagem são demasiado coincidentes com a trivialis.

O que me dizem?


 
RESPOSTAS:

Bom, a minha opinião já é conhecida (é das arvores), … o habitat não é a meu ver determinante, durante a migração as aves podem parar em zonas atípicas. (Pedro Ramalho)

… das-árvores. Com as características apresentadas e aquela unha traseira penso que não pode haver confusão. (Carlos Pacheco)

Eu também vou pela das árvores.
Há uma característica que a meu ver ajuda muito que é a tonalidade amarelada (e não esverdeada), especialmente no peito. E subscrevo o que disse o Pedro: durante as migrações as aves podem aparecer em qualquer habitat... (Gonçalo Elias)

Pelas razões já apontadas (comprimento da unha, tonalidade mais "quente" da plumagem) também me inclino para uma Petinha-das-árvores (Anthus trivialis). (Pedro Cardia)»

 
Assim, fica registada pela primeira vez a passagem pelo estuário do Cávado da Petinha-das-árvores (Anthus trivialis).
 
















Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R., em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL, referem-se a esta espécie como estival rara e migradora de passagem pouco comum e que, apesar de procurar quase exclusivamente as serras nortenhas do Corno do Bico, Peneda-Gerês, Barroso e Alvão para nidificar (Equipa Atlas 2008), “durante as migrações ocorre por todo o país, podendo surgir em vários tipos de habitats, florestados ou não, desde dunas, terrenos incultos, pastagens e campos agrícolas, a montados, pinhais com clareiras e, ocasionalmente, zonas urbanizadas”. Segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, a população nidificante tem o estatuto de Quase Ameaçada. Note-se, porém, que a nível da Europa as suas populações, às quais o indivíduo aqui registado muito provavelmente pertencerá, são consideradas Não Ameaçadas.

 

NOTA: Todas as referências à fenologia das várias espécies aqui mencionadas conforme Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa.