Confirmação da
ocorrência de uma nova espécie de PASSERIFORMES
Em novembro de 2010, por altura da inscrição da
Petinha-ribeirinha (Anthus
spinoletta) na minha «Lista das aves do
estuário do Cávado», na qual ainda constam a muito comum Petinha-dos-prados (Anthus pratensis) e a rara Petinha-marítima (Anthus
petrosus), desenvolvi aqui
um breve texto sobre a presença das aves do género Anthus sp. nesta região e no qual expressei a grande dificuldade em
identificar quase todas as petinhas que ocorrem no território continental
nacional. Mas naquela oportunidade,
por mero desconhecimento, não enumerei o total de nove espécies até então registadas entre nós. Nas acidentais, para
lá da Petinha-de-garganta-ruiva (Anthus
cervinus), deveria ter indicado ainda a Petinha-de-blyth (Anthus godlewskii) e a Petinha-silvestre
(Anthus hodgsoni). Cumpria-me também ter
mencionado a Petinha-de-richard (Anthus
richardi) como invernante e migradora de passagem que, apesar de rara,
ocorre com alguma regularidade na nossa faixa costeira, à semelhança do que se
verifica durante as migrações com as pouco comuns Petinhas-dos-campos (Anthus campestris) e Petinhas-das-árvores
(Anthus trivialis).
Numa
passagem daquele mesmo texto dizia “Com
exceção da observação de uma A. pratensis no final de Agosto de 1998, apenas
registei a ocorrência de petinhas no litoral norte entre os meses de setembro e
março,…”. Ora, este registo não encaixa, de todo, nos vários estudos
fenológicos entretanto publicados. Assumi, então, que a ave por mim observada
naquela data seria certamente pertencente a outra espécie, mas as ditas
dificuldades em distinguir qualquer petinha das restantes obrigar-me-ia, numa
próxima oportunidade, a recorrer ao registo fotográfico através do qual poderia
analisar devidamente as caraterísticas necessárias para um correto diagnóstico.
Assim, desde 2011 estive particularmente atento às aves deste género que
eventualmente ocorressem no estuário do Cávado em finais do mês de agosto e em
setembro. Reforcei esta atenção quando, no início do último mês de setembro,
Miguel Cardoso, coordenador regional do Minho do projeto Atlas Aves Invernantes e Migradoras, me disse
que estava a registar a passagem de Petinhas-das-árvores pelas Lagoas de
Bertiandos, não muito longe daqui em Ponte de Lima.
Até que no final de tarde do dia 20 de setembro de
2012 encontrei, finalmente, uma petinha “suspeita” na linha de água que, ao
longo da margem esquerda do Cávado, contorna o juncal entre a marginal de Fão e
o molhe do Caldeirão. Nada “simpática”, a ave não me permitiu fotos bem
definidas de determinados detalhes que eu considerava importantes para uma
correta identificação, mas, ainda assim e depois de devidamente avisado,
submeti o registo à apreciação no Fórum Aves com as
seguintes palavras e imagens:
«O Pedro Ramalho fez o favor de me pôr às voltas com as
fichas do Javier Blasco à conta de uma petinha que ontem, dia 20 de setembro,
observei no estuário do Cávado.
A ave não foi muito amiga, pelo que o registo fotográfico só deu nisto:
e, desdobrando a partir de outras fotos com ainda pior qualidade, também nisto:
Sem querer influenciar-vos, anexo a imagem de uma pratensis que encontrei naquele preciso local em outubro de 2011:
A ave
das primeira e segunda imagens frequentava habitat típico onde as pratensis
abundam por cá no inverno. Mas os detalhes da segunda imagem são demasiado
coincidentes com a trivialis.
O que me dizem?
RESPOSTAS:
Bom, a minha opinião
já é conhecida (é das arvores), … o habitat não é a meu ver determinante,
durante a migração as aves podem parar em zonas atípicas. (Pedro Ramalho)
… das-árvores. Com as
características apresentadas e aquela unha traseira penso que não pode haver
confusão. (Carlos Pacheco)
Eu também vou pela das
árvores.
Há uma característica
que a meu ver ajuda muito que é a tonalidade amarelada (e não esverdeada),
especialmente no peito. E subscrevo o que disse o Pedro: durante as migrações
as aves podem aparecer em qualquer habitat... (Gonçalo
Elias)
Pelas
razões já apontadas (comprimento da unha, tonalidade mais "quente" da
plumagem) também me inclino para uma Petinha-das-árvores (Anthus trivialis). (Pedro Cardia)»
Assim, fica registada
pela primeira vez a passagem pelo estuário do Cávado da Petinha-das-árvores (Anthus trivialis).
Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R., em AVES DE PORTUGAL
– ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL, referem-se a esta espécie como estival rara e migradora de passagem pouco
comum e que, apesar de procurar quase exclusivamente as serras nortenhas do Corno do Bico, Peneda-Gerês,
Barroso e Alvão para nidificar (Equipa Atlas 2008), “durante as migrações ocorre por todo o país, podendo surgir em vários
tipos de habitats, florestados ou não, desde dunas, terrenos incultos,
pastagens e campos agrícolas, a montados, pinhais com clareiras e,
ocasionalmente, zonas urbanizadas”. Segundo o Livro Vermelho dos
Vertebrados de Portugal, a população nidificante tem o estatuto de Quase
Ameaçada. Note-se, porém, que a nível da Europa as suas populações, às
quais o indivíduo aqui registado muito provavelmente pertencerá, são consideradas
Não Ameaçadas.
NOTA: Todas as referências à fenologia das várias espécies aqui
mencionadas conforme Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES
DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim,
Lisboa.