sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

OBSERVAÇÃO DE AVES (NOVEMBRO 2009)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes



Como todos percebemos no húmido litoral norte peninsular, o mês de Novembro foi pouco favorável para estas coisas da “observação de aves” e muito menos para a “fotografia da natureza”. Além disso, costumo reservar estes dias para me dedicar ao estudo (e não só) de uns seres mais rasteiros a que se dão os nomes vernáculos de tortulhos, míscaros e afins, pelo que, desta vez, o título do texto quase que surge aqui desajustado.

Apesar disso, durante os poucos momentos passados nas margens do estuário ainda foi possível registar a ocorrência de algumas espécies interessantes, em particular as invernantes que, já a bom ritmo, umas após outras, chegam às fecundas águas do Cávado compondo um quadro já habitual.

Assim, foi com enorme satisfação que testemunhei a permanência entre nós da Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) com os seus espectaculares mergulhos, sob os olhares atentos das Garças-reais (Ardea cinerea) que já montam sentinela ao longo de todo o juncal. As primas Garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta), que passam o dia em elegantes bailados nas águas rasas do sapal, e as Garças-boieiras (Bubulcus ibis), que, cada vez em maior número, calcorreiam o dia todo os campos da agra entre Fão e Apúlia, voltaram a escolher o velho Freixo na margem direita para pernoitarem, pintando-o de branco à medida que a luz do dia nos vai abandonando.

Já os batalhões de Corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo), quais esquadras de aviões em formação, preferem riscar o céu com extensos Vês e continuaram a rumar a montante para o recolhimento nocturno, transformando o plano de água do estuário numa autêntica rampa de lançamento, enquanto os Mergulhões-de-pescoço-preto (Podiceps nigricolis) ficaram-se pela partilha do espaço aquático com as várias espécies nativas de patos lá para os lados da foz. Por sua vez, contrariando os últimos anos, além do referido Cisne-mudo (Cygnus olor), que aqui encontrou acolhimento desde Outubro, não se vislumbraram no último mês outros anatídeos ferais (fugidos ao cativeiro) ou exóticos assilvestrados a procurarem refúgio na serena zona ribeirinha de Fão.

Entretanto, o reboliço provocado pela migração dos pilritos, borrelhos e maçaricos foi substituído pela chegada discreta de outras limícolas, como as tímidas Narcejas (Gallinago gallinago) e os Abibes (Vanellus vanellus), autênticos símbolos do frio mas ainda escassos.

Quanto aos passeriformes, é de realçar que, apesar das adversidades, ainda fomos tendo as breves mas coloridas visitas de passagem dos Pintassilgos (Carduelis carduelis) e, mais uma vez, reforcei a convicção de que, à semelhança das minúsculas Estrelinhas-reais (Regulus ignicapillus), as Felosas-do-mato (Sylvia undata) aqui ocorrem principalmente como invernantes. Mas, como sempre, foram as Petinhas-dos-prados (Anthus pratensis) que definitivamente nos anunciaram a aproximação do Inverno.



NOTA: Conforme referi na introdução, em Novembro a máquina fotográfica ficou-se pelo armário pelo que, mais uma vez e com muito agrado, recorri à inestimável colaboração da Sofia para ilustrar o texto. Estas duas gravuras do seu arquivo não foram elaboradas a partir de uma única foto em concreto, são antes o resultado do estudo de várias imagens.