Em resumo, nos três últimos textos estive a referir-me a um espaço natural que alberga pelo menos três tipos de habitats diferentes: - o estuário propriamente dito, o prado juncal inserido no primeiro e vestígios de floresta aluvial, constituída por um amial ripícola atravessado por vegetação palustre.
- constituem habitats próprios para muitas espécies animais e vegetais classificadas por Directivas Comunitárias, nomeadamente pela Directiva Aves e pela Directiva Habitats;
- correspondem a sítios importantes para o refúgio da biodiversidade, designadamente no que diz respeito à presença de espécies raras, ao ciclo de vida de alguns animais marinhos que os usam como local de desova e maternidade, bem como para alimentação e nidificação das aves;
Avifauna típica das comunidades arbustivas das margens do Cávado.
Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula)

- as comunidades vegetais ribeirinhas, denominadas por vegetação ripícola, contribuem para a fixação e manutenção das próprias margens dos rios, pois são resistentes a submersão pelas cheias, regenerando rapidamente os danos causados pelas mesmas, desempenhando assim uma importante função ecológica;
- contribuem também para a regularização e retenção de águas em picos de cheia, prevenindo episódios de catástrofe (inundações);
- nunca desprezível, é também o contributo que qualquer planta (principalmente as de porte arbóreo) dá para a sequestração de CO2 (dióxido de carbono – gás responsável pelo fenómeno do “efeito de estufa” e o consequente aquecimento global);
- em termos mais economicistas, é reconhecida a importância que estes habitats representam para a manutenção dos nossos recursos piscícolas;
- toda a dinâmica natural que ali se desenvolve é ainda responsável pela regulação do ciclo de nutrientes e pela eliminação-reciclagem de resíduos (poluição provocada por substâncias tóxicas líquidas diluídas, provenientes das actividades industriais e agro-pecuárias);
No final ainda me vou referir a outro benefício considerável mas, por enquanto, vou introduzir outra ideia.
Num primeiro momento, pode parecer que este interesse irá colidir com a salvaguarda dos valores naturais que estive a expor até aqui. NÃO NECESSARIAMENTE. Acredito até que a prossecução de um projecto desta natureza possa contribuir definitivamente para a manutenção e valorização ambiental e paisagística daquela zona desde que, claro está, esses valores sejam efectivamente considerados. É essa de facto a minha perspectiva e irá ser certamente a dos responsáveis autárquicos que já estão devidamente alertados para o efeito (pelos “chatos” do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade).

Concluo então todo este meu raciocínio.

Já se começaram a ouvir por aí algumas vozes (certamente menos esclarecidas) a traçar múltiplas ideias sobre a ocupação dos espaços que vão ser criados pela futura obra, todas relacionadas com edificação (é um bar aqui… outro clube náutico ali… mais uma marina acolá… mais asneira… mais aberração… mais atentado urbanístico… enfim… a vítima do costume!). Mas, a serem concluídas “propostas” tão mal informadas, não seria apenas a vertente ecológica que ficaria colocada em risco com a consequente proliferação desordenada do betão.

Além de todos os “serviço prestados” por aqueles habitats que acima mencionei, há a considerar outro que é, por inerência e passo a redundância, o mais visível e de extrema importância, refiro-me aos atributos estéticos daquela paisagem que servem de “moldura” ao bonito “quadro” que é a zona ribeirinha de Fão.
A paisagem constituída pelo Rio Cávado e a Vila de Fão é comummente considerada de relevante valor cénico e, para isso, contribui em grande medida a “envolvente verde” ao casario, constituída pelo conjunto arborizado com pinhal e a vegetação arbórea ou arbustiva e os campos agrícolas adjacentes às margens daquele curso de água, onde impera a diversidade e a harmonia.
Estou seguro que a ausência da componente arbórea na área edificada e nos seus limites e a consequente exposição ou implementação de intrusões visuais (digo, obras de volumetria pesada como as que indiquei há quatro parágrafos atrás), resultaria numa desvalorização paisagística. Portanto, a projecção de toda a marginal tem obrigatoriamente de ser coerente com a linha original do tecido urbano mais antigo (ainda que com traços de modernidade), aproveitando a elevada capacidade de absorção visual da vegetação, sob pena de se perder para sempre a famosa imagem de uma plasticidade ímpar obtida a partir da centenária Ponte de Fão que tem “corrido mundo” e nos enche de orgulho por vivermos neste autêntico “presépio”.
DESAFIO:
(1) Desloquem-se até ao tabuleiro da Ponte de Fão e dirijam o olhar para nascente.
(2) Agora, centrem a vossa atenção (apenas) na “Quinta do Caldeirão” e contemplem durante alguns minutos aquele plano e a forma eficaz como se integra na paisagem.
(3) De seguida, quase sem se mexerem, foquem o conjunto recentemente edificado do núcleo urbano do Caldeirão.
(4) Se pretenderem continuar a agonizar façam o exercício de imaginar o resultado da ausência do “verde” (e outros coloridos próprios da evolução sazonal), caso sejam tidas como sérias algumas das propostas que já começam a perfilar-se por aí no caso da 2ª. Fase da Marginal.
(1) Desloquem-se até ao tabuleiro da Ponte de Fão e dirijam o olhar para nascente.
(2) Agora, centrem a vossa atenção (apenas) na “Quinta do Caldeirão” e contemplem durante alguns minutos aquele plano e a forma eficaz como se integra na paisagem.
(3) De seguida, quase sem se mexerem, foquem o conjunto recentemente edificado do núcleo urbano do Caldeirão.
(4) Se pretenderem continuar a agonizar façam o exercício de imaginar o resultado da ausência do “verde” (e outros coloridos próprios da evolução sazonal), caso sejam tidas como sérias algumas das propostas que já começam a perfilar-se por aí no caso da 2ª. Fase da Marginal.