Confirmação
da ocorrência de uma nova espécie de PASSERIFORMES
Família Turdidae
Quando,
em agosto de 2011, assinalei pela primeira vez a ocorrência de rouxinóis-comuns
(Luscinia megarhynchos) no estuário
do Cávado, desenvolvi aqui um texto sobre as dezanove espécies da família Turdidae (tordos e afins) regulares no território
continental nacional. Além da enumeração das que, até então, já tinha inventariado
na minha área em estudo (quadrícula UTM NF19), indiquei cinco cuja ocorrência considerava
improvável nesta região e ainda justifiquei por que motivo admitia a
possibilidade, mesmo que remota, de vir a registar mais três nesta zona húmida
ou nos habitats naturais e semi-naturais envolventes. Assim, escusando-me a uma
repetição exaustiva, deixo aqui
a hiperligação aos que estiverem interessados em consultar aquele texto.
Desde
então, a minha lista de turdídeos tem-se mantido inalterada. Houve, no entanto,
uma ocorrência verificada menos de 6km a norte da foz do Cávado (quadrícula UTM
NG 10) que merece ser aqui destacada. Lembro que no texto supracitado me referi
à improbabilidade do melro-azul (Monticola solitarius) ocorrer no litoral norte porque,
alegadamente, a “sua área de distribuição é mais meridional e/ou interior e
sobretudo por estar associado a habitats muito distintos dos que aqui pode
encontrar”. Apesar disto, em 8 de fevereiro de 2013, ao
percorrer o Monte da Nossa Senhora da Guia em Belinho, Esposende, avistei um
macho adulto desta espécie entre os afloramentos rochosos que caraterizam
aquele local.
Volvidos
cinco dias, ainda ali foi encontrado um indivíduo imaturo com a idade de 1º
inverno (por Sérgio Esteves). Embora estas observações se tenham verificado
fora da minha área em estudo e, por tal, a espécie continue como não arrolada
em “NF19”, aqui fica a nota destes tão interessantes como inesperados registos.
Enquanto
neste caso me equivoquei no “jogo das probabilidades”, não podia estar mais
certo quando, ao referir-me ao rabirruivo-de-testa-branca, dizia que “… tipicamente frequenta
paragens bem distantes, mas como há movimentos no nosso território de aves
nidificantes provenientes de outras zonas da Europa Ocidental e até do Norte de
Portugal, julgo que, com um pouco mais de esforço de procura, um dia o poderei
encontrar…”. Então, vejamos:
Apesar do mapa da distribuição global apresentado pela União
Internacional para a Conservação da Natureza, coincidente com o da BirdLife
International, mostrar que esta espécie apenas surge no nosso país como
reprodutora em Montesinho e no Algarve, sustentei aquela minha convicção no ATLAS DAS AVES NIDIFICANTES EM PORTUGAL (2) no qual consta que (esta
espécie de rabirruivo) “… É muito discreta, o que contribui também para os
valores de abundância relativa muito reduzidos observados na maior parte do
território” e, sobretudo, no livro AVES DE PORTUGAL (1) que apresenta a ave como estival nidificante e migradora de passagem pouco comum e esclarece que “durante
a migração, os rabirruivos-de-testa-branca podem observar-se em muitos tipos de
habitats, arborizados ou não, principalmente perto do litoral…”.
Assim, de entre as várias aves a que dedico habitual atenção
durante a época de migração pós-nupcial, que nesta região é mais notada a
partir de meados do mês de agosto, não negligenciei a eventualidade da passagem
desta espécie em particular. Os rouxinóis-comuns, que já se ouviam desde o dia
15, foram os primeiros a dar sinal da sua presença e na manhã de 23 de agosto de 2013, entre os
milheirais a montante da ETAR junto à margem direita do Cávado, avistei um
passeriforme que enquanto se manteve no solo me pareceu um comum pisco, porém,
quando se afastou para longe, exibiu uma cauda ruiva que me despertou
suspeitas. A ave apenas pousou por instantes num muro antes de desaparecer
entre as canas do milho, mas ainda me permitiu o registo destas imagens:
Embora muito ampliados e sem nitidez, estes fotogramas apresentam
os detalhes necessários (consultar um bom guia) que me permitem atestar em
absoluto a presença de um juvenil de Rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus) na minha
área em estudo.
Considerada
como não ameaçada no Livro Vermelho dos Vertebrados de
Portugal, esta espécie ainda não constava na Lista Distrital de Braga do portal de referência http://avesdeportugal.info/index.html.
Além dos residentes melros-pretos
(Turdus merula), cartaxos-comuns (Saxicola rubicola), piscos-de-peito-ruivo
(Erithacus rubecula), dos rabirruivos-pretos
(Phoenicurus ochruros), e suas crias,
durante o último mês de agosto apenas registei no estuário do
Cávado a presença do tordo-músico
(Turdus philomelos), mas os habituais
turdídeos migradores não tardariam.
(1) Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em Aves de Portugal – Ornitologia do Território
Continental. Assírio & Alvim, Lisboa.
(2) Equipa
Atlas (2008). Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (1999-2005).
Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Sociedade Portuguesa
para o Estudo das Aves, Parque Natural da Madeira e Secretaria Regional do
Ambiente e do Mar. Assírio & Alvim, Lisboa.