sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

OBSERVAÇÃO DE AVES (NOVEMBRO 2012) (Anexo)


Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de ANSERIFORMES

Família Anatidae

Género Aythya

Por altura da apresentação neste blogue do meu estudo sobre a ornitologia do estuário do Cávado e dos habitats que o envolvem, enumerei aqui as espécies de zarros (Género Aythya) que até fevereiro de 2009 tinham sido por mim observadas nesta área, ou seja, o ZARRO-COMUM (Aythya ferina), o ZARRO-CASTANHO (Aythya nyroca), a NEGRINHA (Aythya fuligula) e o ZARRO-BASTARDO (Aythya marila). Posteriormente, já em 2010, retomei aqui o tema dos “Patos Mergulhadores”, indicando estas quatro como a totalidade das espécies do género presentes em Portugal. Porém, e apesar destes zarros já serem todos raros ou irregulares nesta região, ainda há a considerar outras duas espécies ainda mais improváveis, pelo que a sua ocorrência é apontada como acidental no continente nacional (AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL, Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010). Assim sendo, constam na Lista das aves cujos registos requerem a homologação pelo Comité Português de Raridades, refiro-me ao ZARRO-DE-COLAR ou CATURRO (Aythya collaris) e ao NEGRELHO-AMERICANO (Aythya affinis), ambos originários da América do Norte.

Com a chegada dos muitos anatídeos às margens do juncal e da restinga, verificada desde o final de outubro, tornou-se interessante olhar com mais atenção para os seus numerosos e variados bandos. Além do que já indiquei na «Lista anotada e ilustrada das aves observadas no Estuário do Cávado e habitats envolventes» de novembro, ainda foram ali registados dois Zarros-castanhos, no dia 6, e um juvenil de Negrinha (fotos 1 a 4) que, chegado no dia 10, por ali se manteve até para lá do final deste mês.




 
















E desde o dia 22 dirigi atenção a outra ave que habitualmente acompanhava a negrinha mas que, devido à grande distância a que a via, não a consegui identificar de pronto. Até que, conforme também vemos na segunda e terceira imagens, obtidas no dia 26 de novembro de 2012, consegui fotografar a ave com maior detalhe:







 
















Não restaram quaisquer dúvidas de que estava a ser registado pela 1ª. vez no norte de Portugal Continental o Zarro-de-colar (Aythya collaris), neste caso um adulto em eclipse. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN)  conferiu-lhe o estatuto de conservação global de Pouco Preocupante. No portal desta autoridade está assim identificada a sua distribuição global:

 


















Não obstante, na acima citada obra «Aves de Portugal», é mencionado que esta espécie já é considerada relativamente regular na Europa e no arquipélago dos Açores nesta época do ano.

Pessoalmente, apenas posso atestar a presença desta ave no estuário do Cávado até ao último dia de novembro, porém, foi-me comunicado por Thijs Valkenburg que nos dias 1 e 2 de dezembro, além daquela, ainda ali se encontrava outra ave da mesma espécie, idade e com igual plumagem. Depois desta data deixaram de ser vistos junto à foz mas, segundo Rui Lemos, supostamente os mesmos indivíduos passaram a ser observados ainda no Cávado mas junto à ponte de Barcelinhos.

Ao ser submetido para homologação do Comité Português de Raridades através da nova via, este corresponde ao registo CPR Online 56.

 

Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de CHARADRIIFORMES

Família Scolopacidae

Género Calidris

Em jeito de nota prévia, apresento de seguida uma imagem (do Google Earth) com os limites da área que elegi para o meu inventário ornitológico, sumariamente apelidada de Estuário do Cávado, mas que inclui diversos habitats vizinhos de alto interesse ecológico dentro dos limites do Parque Natural do Litoral Norte na quadrícula UTM NF19 (mais algumas parcelas de tétradas a nascente em NF29), nomeadamente a área marinha pontuada por inúmeros recifes, um extenso mas cada vez mais magro cordão dunar, a mata de pinheiro e folhosas razoavelmente preservada e a zona agrícola envolvente ao caniçal da Apúlia:

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em 2011, quando aqui inscrevi o PILRITO-PEQUENO (Calidris minuta) no inventário que desenvolvo desde 1997, fiz um enquadramento sobre as aves deste género que ocorrem regularmente no continente nacional, enumerando aquelas que já tinha registado na minha área de estudo e fazendo uma menção ao último dos Calidris que esperava observar enquanto não acidental nesta região: - o PILRITO-ESCURO (Calidris maritima).
Esta tornou-se, então, uma das aves mais procuradas por mim. Em primeiro lugar porque Braga era o único distrito com faixa litoral no país sem qualquer registo conhecido da espécie, mas também porque se repetia todos os anos a sua ocorrência aqui ao lado na Póvoa de Varzim (Sérgio Silva e outros). Assim, e considerando que esta é uma espécie muito adaptada aos meios rochosos, além de ter estabelecido como rotina “varrer” os molhes de pedra junto à foz, passei a fazer visitas mais regulares à Apúlia onde se encontra, por enquanto, a única praia com recifes dentro da minha área em estudo.
Assim, no final da manhã do dia 27 de novembro de 2012 fui concluir mais uma jornada de observação de aves naquela praia. E, desta vez, ao apontar os binóculos para um bando de nove rolas-do-mar que descansavam nos rochedos, distingui entre estas uma décima ave.
 


 













 
 
Era a primeira vez que via uma ave destas que, apesar de se comportar como as restantes, se destacava pelo bico mais comprido e colorido e pelas penas de cores mais sóbrias, sem qualquer dúvida típicas de um Pilrito-escuro (Calidris maritima) adulto em plumagem de inverno. Desaconselhadamente, embora o inédito achado o “justificasse”, ultrapassei os limites de aproximação à ave que, mesmo assim, nunca se afastou dos recifes entre o cais dos socorros a náufragos e os moinhos, o que me permitiu registar a descoberta com mais algumas imagens.







 
















O mesmo bando foi relocalizado no dia seguinte a descansar no esporão das Pedrinhas, entre Fão e Apúlia, e ainda foi possível confirmar que aquele pilrito-escuro permaneceu por cá até para lá do final do mês de novembro.

No LIVRO VERMELHO DOS VERTEBRADOS DE PORTUGAL esta espécie está classificada de Em Perigo. No mais atual e já referido livro «Aves de Portugal» esta espécie é identificada como invernante rara e localizada.

Esta foi a 250ª espécie inscrita na Lista Distrital de Braga do portal de referência http://avesdeportugal.info/index.html.

Quanto aos restantes congéneres observados em novembro no estuário do Cávado, além dos habituais Pilritos-comuns (Calidris alpina), ainda há a assinalar uma particular abundância de Pilritos-d’areia (Calidris alba) e um Pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea) tardio que no dia 7 se alimentava em frente ao observatório.

 

Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de PASSERIFORMES

Família Fringillidae

Na lista do mês anterior tinha manifestado a intenção de em novembro dedicar alguma atenção ao esperado trânsito migratório das aves desta família, sobretudo a uma que, por culpa própria, tem teimado, em passar-me despercebida ano após ano – o Lugre (Carduelis spinus). Este propósito foi entretanto reforçado pelos muitos relatos provenientes de várias regiões do país a darem conta de que este estava a ser um bom ano para observar a espécie e ainda por aqueles que também por cá testemunhavam a passagem de grandes bandos sobre os sistemas dunares e as zonas agrícolas marginais ao Cávado. Assim, logo no dia 5, às 10.45, coloquei-me num ponto do sapal junto ao Forte de S. João Batista e a cada anúncio (entenda-se vocalizações) da aproximação dos bandos que passavam para sul, apontava-lhes a teleobjetiva registando aqueles instantes em fotografia. Deste modo, e apesar do movimento incessante e da grande altura a que as aves me sobrevoavam, foi-me finalmente possível obter imagens que atestavam em absoluto a passagem dos lugres na foz do Cávado.

 
















Nesta data, utilizei este método ao longo de 30 minutos, durante os quais estimei a passagem de mais de 1000 (mil) fringilídeos, que se dividiam quase totalmente entre a referida espécie e os Tentilhões-comuns (Fringilla coelebs).

Conforme já foi aqui referido, esta observação não constitui uma novidade absoluta, mas vem, de certa forma e em boa hora, contrariar as preocupações que expressei num texto que também aqui publiquei sobre as várias espécies desta família presentes nesta região, onde são muito procuradas pelos seus dotes canoros.

Nos dias seguintes, repeti registos semelhantes noutros pontos do estuário, em particular sobre os campos de cultivo da margem direita. Além destas duas espécies, em novembro pude ainda observar uma grande profusão de Chamarizes (Serinus serinus), Verdilhões (Carduelis chloris) e Pintarroxos (Carduelis cannabina) por praticamente toda a área em estudo. Deste modo, acabei por diminuir a atenção sobre estas aves, até que no dia 19 foi detetada (por Sérgio Esteves) a passagem de algumas dezenas de indivíduos de uma espécie que, pelo que se conhece, nunca antes tinha sido aqui observada – o Tentilhão-montês.

Logo que tive oportunidade, ou seja, a 22 de novembro de 2012, entre as 11.00 e as 11.30 horas, posicionei-me nas galerias ripícolas da margem direita a montante da ponte velha e através do mesmo processo também acabei por registar a passagem de muitas centenas de aves da espécie Tentilhão-montês (Fringilla montifringilla).



 
















No citado livro «Aves de Portugal» está referido que estas aves podem “surgir em quantidades muito variáveis de ano para ano” estando porém catalogada como invernante rara. No LIVRO VERMELHO DOS VERTEBRADOS DE PORTUGAL foi incluída na categoria das espécies com Informação Insuficiente.