Confirmação da
ocorrência de uma nova espécie de CHARADRIIFORMES
Família Laridae
No último mês de
fevereiro, por altura da inscrição da Gaivota-de-bico-riscado (Larus delawarensis) na “Lista das
aves por mim observadas no estuário do Cávado”, desenvolvi aqui
uma súmula sobre as espécies de gaivotas identificadas até então no litoral de
Esposende. Assim, para enquadrar a apresentação que se segue, remeto-vos para
aquele texto (basta usar a hiperligação).
Neste mês de abril,
durante uma das minhas visitas de rotina pela margem direita do estuário do
Cávado avistei uma ave a descansar no areal a descoberto na maré vaza situado a
montante da ETAR que não consegui identificar de imediato. Por esse motivo,
recorri mais uma vez à comunidade do Fórum Aves, onde expus:
«Ao final da
manhã do dia 24 de abril, vinda dos lados da foz, pousou num areal próximo da
ponte velha no estuário do Cávado a ave que apresento nas imagens.
Num primeiro momento, e
dado o tamanho da ave, julguei estar perante uma gaivina (talvez a C. niger,
com que estou mais familiarizado).
O registo fotográfico
saldou-se num autêntico desastre, mas possibilitou-me, já em casa, identificar
alguns detalhes que não permitem encaixar esta ave no Género Chlidonias,
designadamente a cauda não bifurcada
e o “desenho” exibido na parte superior da asa.
Assim, comparei estas
imagens com as de alguns guias e ainda com outras que pesquisei na internet e
tudo me leva a crer estar perante uma Gaivota-pequena.
Alguém obsta a esta minha conclusão?»
Não tardou a resposta com
a confirmação de que efetivamente se tratava de um 2º. ano de Gaivota-pequena (Hydrocoloeus
minutus) e logo ali
se gerou um curto mas interessante debate sobre a ocorrência da espécie no
nosso país.
Esta gaivota não consta na Lista das espécies de aves referenciadas na caraterização biológica do Parque
Natural do Litoral Norte,
nem no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, porém
a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em cujo portal está identificada com o
sinónimo Larus minutus, atribuiu-lhe
o estatuto de conservação global de «Pouco Preocupante». Catry P.,
Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL
– ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa,
referem-se a esta espécie como invernante e migradora de passagem rara ou pouco
comum.
Para além desta, em abril apenas registei neste
estuário a presença da Gaivota-de-patas-amarelas
(Larus michahellis), do Guincho (Chroicocephalus ridibundus), cujos
efetivos já diminuíam, e da Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus), entre as quais encontrei um anilhado.
Confirmação da
ocorrência de uma nova espécie de ANSERIFORMES
Família Anatidae
Na
Lista Sistemática das Aves de Portugal Continental (Anuário Ornitológico 5: 74-132. R.
Matias et al. 2007) estão
indicados dois gansos do género Branta como
pertencentes à categoria A (registados num aparente estado selvagem). Apesar
disso, a minha convicção apenas me permitiu inscrever com tal estatuto o par de
Gansos-de-faces-negras
(Branta bernicla) que aqui se abrigaram no outono/inverno de 1998/99 na “Lista das aves por mim observadas no estuário do Cávado”. Em relação à outra espécie, o Ganso-de-faces-brancas (Branta leucopsis), optei por ser mais cauteloso na sua classificação e
no meu inventário coloquei-o entre as “Espécies
que ocorrem apenas como resultado de uma introdução, fuga ao cativeiro ou
possivelmente provenientes de populações selvagens mas com a situação não
avaliada pelo Comité Português de Raridades”, por, justamente, me restarem dúvidas quanto à origem dos vários
indivíduos aqui observados.
Mas,
ainda no Anuário 5, está mencionado outro ganso deste género cuja proveniência suscita
ainda mais dúvidas. Nativo do continente norte-americano, o Ganso-do-canadá
(Branta canadensis) foi
introduzido há vários séculos na Europa. Assim, surge naquele documento com a
categoria D4, ou seja, incluído nas espécies naturalizadas mas, por também ser
criado para fins ornamentais, com fortes possibilidades de ter escapado àquela
condição e adquirido a liberdade.
Deste
modo, torna-se praticamente impossível determinar a origem do indivíduo desta
espécie que no dia 27 de abril
chegou a este estuário e, manifestando-se pouco perturbado pela presença de
humanos, se instalou na zona ribeirinha de Fão.
As
suas populações selvagens têm o estatuto de conservação «Pouco Preocupante» e em
AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL esta espécie é
apresentada na secção das não autóctones e está classificada de “acidental /
fuga de cativeiro”.
Embora
não seja decisivo, o facto de a ave ter passado por este estuário tão
tardiamente aponta mais para a hipótese de “fuga ao cativeiro”. Assim como este
ganso, também deve ser encarada com algum ceticismo a proveniência de parte significativa
da comunidade de Patos-reais (Anas platyrhynchos) que aqui permanece para além dos meses frios e
ainda da fêmea de Pato-ferrugíneo (Tadorna
ferruginea) que igualmente se está a demorar.
Por
fim, e sem quaisquer hesitações, podemos classificar de “domésticos” (categoria
E – introduzidos ou fuga de cativeiro), todos os restantes anatídeos exóticos
recolhidos durante este mês a montante da ponte velha, ou seja:
o
Ganso-chinês (Anser cygnoides)
o
regressado, no dia 20, Ganso-do-egipto (Alopochen
aegyptiaca)
o
Pato-mudo (Cairina moschata) – a
fêmea das fotos, os “seus” três híbridos e ainda outro, muito escuro, que aqui
passou algumas horas no dia 5
o
híbrido de Piadeira-do-chile (Anas
sibilatrix) (supostamente com Anas
americana ou Anas flavirostris)
e
ainda o Pato-das-bahamas (Anas bahamensis).