quinta-feira, 18 de março de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (FEVEREIRO 2010)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes

O segundo mês do ano traz-nos, por regra, algumas evidências da aproximação de dias mais quentes, não por se verificar um aumento efectivo da temperatura ambiental, mas antes porque é nesta altura do ano que se registam as primeiras ocorrências de algumas aves estivais ou migradoras de passagem ou ainda por se notarem já várias alterações nas suas plumagens e no comportamento. De qualquer modo, na quase totalidade do mês, as espécies aqui presentes foram praticamente as mesmas de Janeiro, pelo que poderia tornar-se aborrecido repetir quase na íntegra o exposto no texto anterior.

De entre as aves que entretanto deixaram de ser avistadas por cá ou cujos efectivos já se encontraram muito reduzidos, será de destacar, além de quase todas as espécies de patos (Anas spp.), os Mergulhões-de-pescoço-preto (Podiceps nigricolis) e os Abibes (Vanellus vanellus) que, aqui e ali, ainda se fizeram representar por alguns belos exemplares, sobretudo nos terrenos encharcados da margem direita.























































Quanto às restantes limícolas, mereceu particular destaque entre as esperadas Rolas-do-mar (Arenaria interpres), Pernas-verdes (Tringa nebularia) e Tarambolas-cinzentas (Pluvialis squatarola), o surgimento de cinco ecléticos Maçaricos-reais (Numenius arquata) que alternaram a “mesa” entre os lodaçais estuarinos e os campos de cultivo de Gandra.













































































































Entre os anatídeos, restaram-se, ainda, alguns bandos de Patos-reais (Anas platyrhynchos) e Marrequinhos (Anas crecca). Assinale-se, no entanto, e só a título de curiosidade, pois não é mais do que uma ave feral, que nos últimos dias do mês apareceu nos sapais um Pato-ferrugíneo (Tadorna ferruginea) em óptima forma física e com um colorido encantador, em particular sob os primeiros raios de sol.























































Variando, agora, na ordem habitual de apresentação, passo a referir-me aos passeriformes que, apesar de terem sido praticamente os mesmos desde o início do ano, denotaram já um comportamento diferente. As Alvéolas-brancas (Motacilla alba) demoram-se nos cuidados com as penas e um ou outro casal já ensaiaram, rente ao solo, as primeiras danças de “engate”.
























































Os fringilídeos, como os Verdilhões (Carduelis chloris) ou os Chamarizes (Serinus serinus) fizeram-se notar pelos amarelos esverdeados das suas penas a ganharem maior brilho, ao passo que os primos Tentilhões (Fringilla coelebs) se tornaram cada vez mais raros. Por sua vez, os machos das Carriças (Troglodytes troglodytes) mas sobretudo os das Ferreirinhas (Prunella modularis) já afinavam as suas siringes para os cânticos de sedução.



















Com chamamentos não menos apelativos estiveram também os Piscos-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) e um ou outro Tordo-músico (Turdus philomelos), mas estes estiveram mais cautelosos e dificilmente abandonavam a protecção das sombras ou da proximidade de uma sebe mais densa.





































No grupo dos menos melodiosos, foi registada, no dia 28, a chegada das primeiras Andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica) e este Pardal-montês (Passer montanus), que fez questão de se exibir para a minha lente, surgiu como que a dizer “presente”, apesar de ter sido uma espécie pouco observada neste último Inverno.



















Ao contrário destes, as frenéticas Estrelinhas-reais (Regulus ignicapillus) ainda fizeram várias aparições pela orla do pinhal de Ofir, mas o acto de o registar em imagens tornou-se praticamente impossível. Para conseguir ilustrar devidamente estas palavras, nem a ajuda preciosa e paciente de um recente amigo destas coisas foi suficiente, pois o melhor que consegui foi esta tremedeira fotográfica (no Parque Biológico de Gaia).



















Continuando nas aves mais fotogénicas, não podia deixar de fazer, desta vez, uma referência especial aos Guardas-rios (Alcedo atthis) que, por enquanto, ainda foram avistados em abundância neste troço do Cávado, sobretudo numa labuta incessante à procura de reservas de energia para os tempos exigentes que se aproximam. E registo este facto pois, não tardará, muitos dos invernantes subirão o rio em busca de locais de reprodução mais reservados e que são cada vez mais escassos junto ao nosso litoral tão pressionado.

No final do mês e em sentido oposto, observaram-se as passagens e chegadas de vários bandos de Pombos-torcazes (Columba palumbus) que vieram juntar-se aos poucos indivíduos que por cá resistiram ao nosso Inverno.

Entretanto, as tempestades dos últimos dias de Fevereiro “obrigaram-me” a tirar o telescópio do armário e a espreitar para o mar, onde foi perceptível uma ligeira aproximação à costa de alguns alcídeos (airos e afins). Estas condições adversas, que também me incentivaram a olhar com mais atenção para os bandos estacionados de gaivotas, ainda “arrastaram” até à tranquilidade do estuário vários Garajaus-comuns (Sterna sandvicensis).























































Ali, onde ultimamente o branco das linhas das gaivotas PARECE ESTAR A DIMINIUR, percebeu-se com nitidez a profusão do negro dos Corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo).



















Mas também se assinalou a ilustre presença da rara Gaivota-do-mediterrâneo (também conhecida por Gaivota-de-cabeça-preta) (Larus melanocephalus).





































Nas aves de rapina já não ficou registada qualquer ocorrência da “coqueluche do nabal” mas tornou-se bem evidente que a “prima” Coruja-das-torres (Tyto alba) patrulha agora com maior assiduidade a sua “área de jurisdição”. Restou-me a íntima esperança de que, entre nós, o casal de Tartaranhões-dos-pauis (Circus aeruginosus) concretize o namoro.



















Ainda antes da debandada das garças em geral, que estará a ocorrer para breve, dirigi com alguma demora as minhas lentes para o garçário onde pernoitam e não resisti, mesmo com a distância de margem a margem, em recolher imagens do modo como, no crepúsculo, abordam em voo sincronizado a velha árvore e como nela se acolhem.





































Este bando, como já referi, é composto por Garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta) (apenas na 1ª. imagem), oriundas de todo o estuário, e Garças-boieiras (Bubulcus ibis) que passam os dias a alimentarem-se nos campos agrícolas da Apúlia onde, após me ter abrigado convenientemente, me possibilitaram um interessante conjunto de fotos.













































































































E, enquanto uma Cegonha-branca (Ciconia ciconia) continuava com as suas aparições fugazes sobre a ponte metálica, um casal desta espécie, aqui bem perto, já fazia soar bem alto o “bater dos bicos”.