sexta-feira, 25 de julho de 2008

NIDIFICAÇÃO (parte V)

(Conclusão)


Num breve estudo sobre as características ecológicas da diversidade de biótopos presentes no litoral do Concelho de Esposende, podemos facilmente concluir que estes assumem, antes de mais, um interesse significativo para as aves migradoras de passagem e invernantes (p. ex. o Estuário do Cávado apresenta-se como uma área importante para o descanso e alimentação durante o Inverno e o período migratório) e não propriamente como local de nidificação. Ainda assim, algumas espécies consideradas de conservação prioritária, ou com valor ecológico relevante, fazem uso dos ecossistemas que aqui (ainda) se desenvolvem para se reproduzirem, sendo de destacar, entre outras aves, o Borrelho-de-coleira-interrompida.


A este nível, devemos atribuir especial atenção à preservação de habitats como os Juncais do Estuário do Cávado; o Caniçal em Agra da Apúlia; a Mata Dunar de Pinheiro e Folhosas entre Fão e Apúlia; os Sistemas Dunares e as suas Depressões Húmidas; ou ainda as Comunidades de Vegetação Ripícola nas margens do Cávado, do Neiva e de algumas das ribeiras costeiras, onde evoluem condições muitos favoráveis para a procriação de muitas espécies de aves (e não só). Mas também cada um dos indivíduos da fauna que ali habita merece especial respeito ao longo de todos os seus ciclos de vida, particularmente durante o período reprodutor em que estão mais vulneráveis a actos predatórios.

Nesse sentido, importa apelar ao bom senso de todos aqueles que ficaram rendidos aos encantos e aspectos mais lúdicos da Natureza, como é o caso do crescente número de Fotógrafos da Natureza, para que tenham em consideração que essa actividade representa sempre uma interferência no meio ambiente e nas comunidades que o integram.

Com o intuito de regular aquela acção, no nosso País apenas conheço o Código de Conduta para o Fotógrafo da Natureza apresentado pela LPN – Liga para a Protecção da Natureza em Novembro de 2007 pelo que, considerando-o adequado a todos nós, tomo a liberdade de aqui o reproduzir ( Fonte:
www.lpn.pt/ ).


«A Fotografia de Natureza é uma actividade que, como o nome indica, implica uma relação próxima com elementos naturais, sejam espécies, habitats ou paisagens.

Por esse motivo, o exercício dessa actividade deve obedecer a um conjunto de princípios básicos.

No decurso das actividades de fotografia de natureza, a principal preocupação do fotógrafo deve ser a salvaguarda da vida ou modo de vida de qualquer que seja a espécie a fotografar. O princípio básico que deve reger esta actividade deve ser: a vida, bem como o bem-estar do sujeito e/ou do ambiente a fotografar são mais importantes do que qualquer fotografia.


O referido conhecimento simplificará a observância do seguinte conjunto de recomendações ou regras de conduta:
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- Todas as fotografias deverão ser tiradas com os seres vivos a fotografar no seu habitat natural, pelo que a recolha de plantas ou a captura de animais para fins fotográficos é inadmissível;

- A actividade fotográfica deve implicar o mínimo de impactos no ambiente circundante aos seres vivos a fotografar, sendo necessário tomar precauções para que a sua protecção natural não seja danificada;

- A fotografia de aves no ninho encontra-se excluída do âmbito da Fotografia de Natureza, procurando assim evitar-se a indução de perturbações em ninhos de aves mais sensíveis;

- A fotografia de cavidades de nidificação ou na proximidade de locais de nidificação deve ser dissuadida, se existir a mínima possibilidade de perturbação;

- Deve ser evitada a perturbação de animais à procura de alimento ou a transportar alimento para as áreas de procriação;

- Os locais de abrigo dos animais não devem ser objecto de perturbação em quaisquer circunstâncias;

- Devem ser evitados quaisquer comportamentos que possam prejudicar os animais;

- Bom senso

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Além destas regras, devo ainda de fazer referência ao “Manual de Buenas Prácticas del Fotógrafo de Naturaleza” editado pela AEFONA – Asociación Española de Fotógrafos de Naturaleza (
http://aefona.org/ ) que inclui, além do respectivo Código de Ética que abaixo se apresenta *, alguns conselhos práticos, reflexões e advertências sobre a actividade, informações interessantes (dicas), lista de espécies protegidas, enfim, uma série de conceitos que nos conduzem ao encontro da filosofia daquela instituição: “Antes deixar de obter uma imagem, que prejudicar minimamente o ser vivo que nela devia aparecer”.
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«Código Ético do Fotógrafo da Natureza (AEFONA)

1 – A segurança do sujeito e a conservação do meio são sempre mais importantes que a obtenção da sua fotografia.

2 – Temos o dever de obter amplamente conhecimentos sobre a biologia e o comportamento das espécies a fotografar com o fim de prevenir actuações improcedentes ou causar danos. Da mesma forma, deve adquirir também os conhecimentos técnicos necessários para abordar com segurança a fotografia dos seres vivos em cada situação apresentada.

3 – Sempre que a Lei o exija para algumas espécies, devemos solicitar as licenças necessárias às autoridades competentes para as fotografar e, se o terreno for privado, também aos seus proprietários. Devemos respeitar o modo de vida das pessoas que vivem e trabalham no meio natural.

4 – Para fotografar a fauna, devemos trabalhar preferencialmente com exemplares livres e selvagens no seu meio natural, sem alterar o seu normal comportamento. Devemos evitar as situações delicadas como os animais que estão a incubar ou com crias recém-nascidas, especialmente em condições meteorológicas desfavoráveis (frio, chuva, sol directo…). Se as condições permitirem o trabalho fotográfico, teremos de tomar as máximas precauções, desistindo se as crias correrem algum perigo.

5 – Devemos evitar tanto quanto possível o transporte de espécies para fotografia em estúdio. Caso aquelas espécies sejam, excepcionalmente, retiradas do seu habitat, as mesmas devem ser colocadas novamente no local de origem, sem qualquer dano e no mais breve prazo possível. As espécies protegidas legalmente ficarão excluídas se não se dispuser da devida licença das autoridades.

6 – Para fotografar a flora, deveremos trabalhar preferencialmente no campo, evitando arrancar total ou parcialmente as espécies.

7 – Não devemos alegar que uma fotografia foi realizada em condições controladas – as fotos em zoológicos e similares podem fazer supor uma maior tranquilidade para as espécies mais escassas e vulneráveis.

8 – Evite o corte de ramos ou vegetação para disfarçar os esconderijos usados para fotografar a fauna selvagem, utilizando preferencialmente redes ou tecidos camuflados ou, na sua falta, ramos mortos e vegetação seca.

9 – A camuflagem natural de um ninho manipulado para uma sessão fotográfica deve ser restaurada no final. Os ramos devem ser atados e não cortados e nunca se deixará exposto o ninho a predadores, outras pessoas ou às adversidades climáticas.

10 – Devemos evitar manipular qualquer elemento mineral ou arqueológico de forma a poder alterar-se irremediavelmente a integridade de uma formação geológica ou paleontológica.

11 – Passar sempre despercebidos durante o trabalho de campo, não atraindo a atenção do público ou de um predador. Não revelar a localização de espécies raras, salvo a investigadores acreditados e pessoas competentes que contribuam para a sua protecção.

12 – Devemos manter sempre limpo o local do nosso trabalho de campo, eliminando também qualquer sinal da nossa actividade.

13 – O fotógrafo da natureza que trabalhe fora do seu País deve actuar com o mesmo cuidado e responsabilidade como se estivesse no seu próprio.

14 – Informar as autoridades de qualquer infracção que observemos contra a Natureza, incluindo as actuações à margem da Lei realizadas por outros fotógrafos.

15 – Colaborar com outros companheiros para melhorar as condições de trabalho na Natureza, divulgando ao mesmo tempo o presente código ético a todos aqueles que o desconhecem

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Por fim, gostaria de concluir este tema com algumas reflexões mais pessoais.

Tenho plena consciência de que para quem se dedica ao registo fotográfico dos valores naturais, actividade também conhecida no meio por “Caça Fotográfica”, a “fronteira” que divide a correcção do excesso se apresenta muito ténue e, mesmo para os melhor intencionados, é difícil não perturbar a fauna ou evitar pequenos danos na flora. Ainda assim, não sendo adepto de fundamentalismos, considero que, exercido com a devida moderação, este modo de recreio pode ser extremamente didáctico obrigando-nos a um estudo constante e proveitoso e, consequentemente, contribuir para uma melhor sensibilização ambiental.

Agora tomemos o exemplo de determinadas aves que, tolerantes à presença humana, “constroem” o ninho nos beirais de janelas, alpendres, garagens, armazéns ou mesmo num arbusto do nosso jardim e que não manifestam qualquer sintoma de perturbação quando lhes apontamos uma teleobjectiva. Ou então aquelas que, embora sensíveis à nossa aproximação, não se aperceberam de um esconderijo que tão bem erguemos quase em cima do ninho. Em ambos as situações conseguem-se obter excelentes fotografias, mas questiono:


1º. – Será assim tão fácil perceber se uma ave está a sentir incómodo com a nossa presença por perto? Os sinais transmitidos pelo comportamento das aves serão de interpretação óbvia?

2º. – O facto do progenitor que cobre os ovos ou as crias se manter imóvel quando nos aproximamos, significará que não nos receia? Conheceremos todos os factores que podem influenciar negativamente os esforços de procriação ou mesmo resultar no abandono do ninho?

3º. – O que transmitimos aos predadores quando nos intrometemos durante algum tempo nas imediações de um ninho com crias que, obviamente sem medo, libertam os habituais apelos bem sonoros?

4º. – Quando afastamos alguns ramos para conseguir focar um ninho ou os seus ocupantes, mesmo sem os cortar, será que depois os conseguiremos recolocar na mesma posição? O que é que ficará evidenciado com uns meros centímetros de desvio em relação ao inicial?

5º. – A foto de um ninho bem conseguida em termos cénicos, alcançada a longa distância ou com todas as cautelas e sem causar qualquer perturbação, acompanhada de todas as advertências sobre os cuidados tidos na sua obtenção, não irá despertar noutros (pseudo)fotógrafos a vontade de “conquistar um troféu” semelhante, mesmo que para isso se “atropelem” as mais elementares normas do bom senso numa procura desenfreada de ninhos? Será que a NÃO PUBLICAÇÃO de uma imagem com aquelas características, não EVITARIA aquele tipo de predação?

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Em muitos casos, as nossas fotos expõem, denunciam ou evidenciam a nossa sensibilidade ambiental. Ao divulgar uma fotografia da nossa autoria estamos, de alguma forma, a revelar um pouco de nós.

Como viram, nas imagens que acompanharam os textos que compõem este trabalho, NUNCA FORAM EXPOSTAS FOTOGRAFIAS DE NINHOS OCUPADOS PELAS AVES ADULTAS, SIMPLESMENTE POR OVOS OU MESMO PELOS JUVENIS e isso, julgo, não significou que o trabalho tivesse sido desenvolvido com menor profundidade ou com uma ilustração ineficiente.





* A tradução do texto original em Castelhano para a língua Portuguesa é da minha autoria pelo que, a existir qualquer lapso, assumo a inteira responsabilidade e lamento-o desde já.